Camille François diz durante a Campus Party ser preciso “debater a ciberpaz, e não a ciberguerra”

Ataques cibernéticos já existem muito antes da própria internet ganhar forma. Estão aí há pelo menos 30 anos e ainda são motivo de debate entre milhões de pessoas. De onde vêm tais ameaças? Governos? Organizações secretas? Grupo de ativistas? Estas e outras teorias fazem parte de um movimento conspiratório que questiona a existência de uma guerra no espaço virtual. E foi esse o plano de fundo da palestra de Camille François, pesquisadora da web e sociedade no Berkman Center, centro de estudos da Universidade de Harvard voltado à internet, na oitava edição da Campus Party Brasil.

Embora a ciberguerra seja um dos assuntos de maior evidência dos últimos anos, Camille acredita que é preciso reverter esse quadro e estimular debates que tratem da ciberpaz. Isso porque, segundo a especialista, todo ataque hacker é configurado como “ciberguerra”, o que acaba confundindo o verdadeiro significado do termo.

“Até os diretores da Agência Nacional de Segurança dos EUA não sabem do que se trata [a ciberguerra], mesmo falando nisso com bastante frequência. É difícil definir o que ela é”, comentou.

Ciberguerra é uma nomenclatura que teve origem entre os militares, que aprenderam rapidamente como agir diante de ameaças cibernéticas. O trabalho desses militares é identificar possíveis situações que se enquadram no contexto da ciberguerra. No entanto, Camille destaca que está cada vez mais difícil encaixar o que é ou não uma ameaça cibernética, já que, apesar de estarmos mais expostos na web – e, consequentemente, mais sujeitos à falta de privacidade –, o espaço virtual como um todo se tornou anônimo. Ou seja, está mais difícil saber quem provocou um ataque e suas verdadeiras motivações.

“Não sabemos se são hackers, criminosos, terroristas”, disse a pesquisadora. É aí que entra o conceito de ciberpaz defendido por Camille. Como quase todas as ameças passam despercebidas no ambiente digital, não se pode identificar com clareza a origem do ataque, que pode ter partido de nações contra outras nações, mesmo que elas estejam em paz no mundo real. “O que importa agora é definir as regras para viver uma sociedade cibernética”, explicou.

Essas regras citadas pela pesquisadora defendem um ideal necessário que evite confundir a expressão “ciberguerra” com outros termos, como “cibervandalismo” e “ciberterrorismo”. Para exemplificar esse cenário, a especialista citou o caso hacker da Sony Pictures, que teve centenas de arquivos confidencias invadidos e divulgados na internet no final de 2014. O ocorrido, que acabou cancelando um lançamento maior do filme A Entrevista, fez com que os Estados Unidos apontassem os norte-coreanos como responsáveis, mas a própria Sony admitiu que seus servidores não tinham a segurança necessária para evitar tais ataques.

“A invasão aos documentos da Sony foi classificada como uma situação em larga escala, massiva. Mas não se pode qualificá-la como ciberguerra”, disse.

Para Camille, a ciberpaz é um ideal que a sociedade precisa alcançar, além de uma política global que ajude a internet a caminhar dentro de um sistema de regras que preze pelo bem-estar dos usuários, bem como sua privacidade e liberdade de expressão. “Existem diversas ténicas que temos de concordar para que a web tenha um alcance global, e isso inclui protocolos, medidas de segurança e outras diretrizes. Estas são decisões que afetam o mundo inteiro. Nosso grande trabalho agora é reforçar que estamos em paz”, finalizou.

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